sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Jesus em minúscula.


"Deus, onde você está? Está na hora de aparecer, de mover uma montanha, fazer o tempo parar, abrir o mar, curar um cego. Cadê seu poder? Onde foi parar o milagre? Você não viu que ontem eu chorei? Onde você estava?" Em algum momento essa foi a minha oração, e talvez tenha sido a sua, ou ainda vá ser. Não sei. Mas hoje eu encontrei Deus. De novo. E Deus me abraçou. Onde ele estava? Aqui. O tempo todo. Dentro de mim. Por que eu não enxergava? Estava cega. Procurando grandes sinais. Esperando vê-lo em outras vidas, vê-lo solucionar problemas grandes pelos quais eu nunca precisei passar. E ele estava aqui o tempo todo. Agindo quietinho, sorrindo enquanto eu o procurava, abrindo meus olhos pra tudo aquilo o que acontece todo dia. O tempo todo. Co-ti-di-a-no, a boa notícia é que Deus também está por lá. Ou por aqui. 
Seu carro bateu, ninguém se feriu, você agradece. Por que não lembrar das inúmeras vezes em que seu carro não bateu? Você ficou doente, e depois curado, e agradeceu. Por que não agradecer por todos os outros dias em que seu corpo levantou da cama com disposição para enfrentar o dia? Costumamos pensar que Deus está no grande, no fácil de ver, nos terremotos nas prisões. E ele está. Mas não só lá. Ele está aqui, aí, em todo o lugar. 
Precisamos ser sensíveis. Precisamos encontrar com Deus todos os dias. E sermos abraçados. Confortados. Ele está aqui. Não está longe. Não está esperando o furacão acontecer na sua vida para começar a operar. Ele está agindo no dia-a-dia, te livrando, colocando sorrisos no seu caminho, ajeitando os ponteiros para que você chegue ao ponto de ônibus alguns minutos antes de passar o ônibus que te levará em segurança ao seu destino.
No início pode ser difícil, como olhar na escuridão, mas depois o olhar acostuma e a gente consegue ver. Meio disforme, sem jeito, mas está lá. É assim com Deus. Parece difícil encontrá-lo quando nenhuma tempestade precisa ser acalmada, mas ele está lá. Meio sem jeito do Deus que às vezes a gente espera que ele seja: o Deus das grandes coisas. Eu descobri, olhando no escuro, que o Deus das grandes coisas é o mesmo Deus das pequenas coisas. Quando enxergo Deus ao encontrar o sapato que queria após entrar em todas as lojas e nenhum servir no meu pé ou quando consigo falar com alguém que há muito tempo não falo, o imagino sorrir para mim. E sorrio. Porque o enxerguei no trivial. 
Precisamos aprender a ver Deus quando for difícil, quando "milagre" parecer coisa que só acontece na Bíblia, há muitos anos atrás, quando Jesus passava por aqui. Precisamos entender que os milagres acontecem. O tempo todo. Feito terremoto, mas também feito o bater de asas de uma borboleta. Porque Jesus ainda está aqui. Não apenas conosco, mas dentro de nós, nos fazendo de habitação. E é aí que o milagre começa. Quando Jesus deixa de ser o cara que "está aí", "por aí", "em algum lugar fazendo coisas grandes", para ser aquele que "está aqui", "aqui comigo", "aqui cuidando de cada detalhe da minha vida". Milagre não tem tamanho. Milagre tem o endereço da sua necessidade. Seja uma cura, uma causa impossível ou qualquer outra coisa que pareça digna da atenção de Jesus; ou seja apenas um sapato, ou que você chegue no horário certo para fazer aquela prova importante, ou que não chova enquanto você não chegar em casa ou qualquer outra coisa pequena o suficiente para te fazer entender que o Jesus da multiplicação, de fazer o coxo andar, de ordenar que as águas se acalmem, é o mesmo que se importa com cada detalhe da vida que ele te entregou. Por menor que seja pra você. Não é pequena coisa pra ele.
Entrega total é isso: entregar cada milésimo de segundo do seu dia. Dizer "olha, Deus, não é grande coisa, mas é o que eu tenho hoje, você consegue manifestar o seu poder com isso?" A boa notícia é que ele consegue. Você só precisa estar sensível, estar disposto a ver, estar entregue, estar ansioso para vê-lo em minúscula e não ter tempo para duvidar que é real. Jesus é real. Mesmo em minúscula, ele é grande. E é grande por isso: por ser grande o bastante para agir nas nossas pequenas coisas, no "menos importante", no que ninguém viu. Deus te deu "bom-dia" hoje, você viu? 

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Uma cidade sobre a montanha.


Uma cidade edificada sobre uma montanha, daquelas que não se pode esconder. Por mais que as luzes estejam apagadas, os portões fechados e ela tenha um ar sombrio abandonado: ela está lá. E as pessoas a veem, sabem que ela existe, que é uma cidade, ainda que calada, escura e sem movimentação. A cidade continua lá. Nós continuamos lá. Por que tão alto? Por que tão visível? Por que não no litoral, perto de alguma praia deserta, visitada apenas por alguns poucos turistas e em determinadas épocas do ano? Por que? Porque precisamos ser vistos.
Estamos numa montanha porque precisamos ser vistos. Não para nos exibirmos. Mas para exibirmos aquele que habita em nós. Estamos tão alto porque precisamos que nossa luz brilhe, que o som das nossas ruas alcance todos os quarteirões abaixo de nós, que a alegria que circula pelos fios de nossas casas chegue também aos nossos arredores e eletrize corações. Precisamos que vejam a cidade que somos, edificadas sobre um Cristo que todos os dias circula pelas nossas ruas e pelas nossas casas e pelas nossas veias. O mundo precisa que sejamos cidades com hospitais que curam, com amor, com perdão, com a paz que temos naquele que nos edificou; o mundo precisa que nossas praças festejem, dancem, cantem, celebrem todos os dias! Em meio aos dias claros ou em meio à tempestade, quando não houver nenhuma estrela no céu, quando a dor estiver cantando mais alto e abafando o canto dos pássaros. O mundo precisa ter vontade de estar conosco, precisamos mostrar a essência da nossa cidade e atrair os olhares, os passos, os corações. Precisamos construir mais casas, asfaltar as ruas, colorir as paredes, pendurar fitas nos portões, estender tapetes de boas-vindas, precisamos crescer. E vamos. Vamos ser uma cidade que cumpre com o papel daquele que nos planejou. Vamos chamar atenção porque brilhamos, porque temos alegria em nossas ruas, porque nosso canto alcança os quatro cantos do mundo. O mundo não precisa de cidades sombrias, frias, escuras, ele precisa de nós. Da nossa cidade e da rocha sobre a qual estamos. Não por nós, mas por aquele que nos chamou. Não pela nossa alegria, mas pela alegria que nos é dada. Não por onde estamos, mas por para onde vamos.